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Hanami – Cerejeiras em Flor

A prestativa e carinhosa Trudi (Hannelore Elsmer) convence seu esposo, Rudi Angermeier (Elmar Wepper), o qual desconhece que sofre de uma doença silenciosa e letal, a viajar para visitar os filhos e ver novas paisagens. Entretanto, quem falece é Trudi, fato que descoberta a dependência de Rudi à mulher e a tentativa de reencontrá-la ao realizar desejos que Trudi não logrou em vida, por abdicá-los em nome da família e de Rudi, como o butoh. Para isso, ele conta com Yu (Aya Irizuki), uma jovem que lhe guia nessa desconhecida forma de se comunicar com os mortos pela arte.

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Três palavras definem o longa: estético, simples e contemporâneo.

A estética está sobre dois pilares artísticos: o apolíneo e o dionisíaco, onde o rotineiro europeu Rudi contrasta com a moderna arte da dança Butoh de Yu, dança essa que em si é uma reação ao milenarismo japonês, como também incorpora a elevada espiritualidade e emoção oriental. Essa estética denota-se com o deslocamento do cenário de uma urbana Europa a um contemplativo Monte Fuji. A saber, a fotografia ganha seu encanto ao retratar tal montanha, que ainda faz uma ‘participação tímida’ na narrativa, contudo ganha seus louros por sua grandiosidade e mansidão formidável.

Outro ponto é a simplicidade do enredo, que apresenta visões complexas e sutis como bem as banais sem destoar na narrativa. Doris Dörrie (roteiro e direção) conduz com equilíbrio e fluidez o enredo, como a interpretação suficiente do atores, com destaque ao trio que conduz o filme (Trudi, Rudi e Yu).

Tal desenvolvimento logra um olhar contemporâneo a realidade do espectador mediante as situações apresentadas: a confusão do casal interiorano nas novidades tecnológicas da cosmopolita Berlim, como também o circuito sexual urbana de Tóquio (Rudi experimenta a capital nipônica tanto em seu tédio tecnológico, como nos prazeres japonês); A mesquinhez familiar dos filhos para com seus pais; netos entregues a solitários videogames; o abordar do casal homoafetivo (uma realidade tratada pela diretora). Além de ricas propostas notáveis na temática do Butoh – dança moderna japonesa de resultado filosófico do século XX -, e na estética digna de diálogos do alemão Nietzsche. Tudo criando uma confluência dos núcleos europeus e japoneses, em uma harmonia de diálogos artísticos e visões.

Outro aspecto atual pode ser observado na sutileza da vida da personagem Klaus: aparentemente o filho mais protegido pela matriarca, ele cumpre os desejos maternos quanto ao Japão, fixando sua vida lá, mesmo que não atendendo e revelando nenhuma preferência artística igual à mãe. Um fato digno da psicanálise.

Curiosamente, a diretora, Dörrie, já trabalhou com o ícone do butoh, Tadashi Endo – artista japonês residente na Alemanha –, o qual foi filmado em uma de suas apresentações para o filme (cena que interrompe o núcleo europeu e sua frieza devido à intensa expressão sentimental da apresentação. Um já pequeno indício da próxima mudança do enredo). A dupla produziu o espetáculo Admeto.

As cerejeiras do titulo aparecem em queda no momento em que Rudi conhece Yu: ela esta em meio a uma apresentação de butoh em uma praça. Essas flores trazem a delicadeza e sensibilidade que ele precisará para romper seu tradicionalismo e engajar-se na dança.

Cherry Blossoms, título em inglês, é um daqueles filmes que eclode com competência em sua percepção da realidade contemporânea, fazendo seu papel em um simples e atual cinema, construindo olhar reflexivo do público.

Nota: 8.5

Mais dados: IMDb

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