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Ensaio: E a classe media?

Sabe aquela: “rico paga, pobre ganha, e a classe média…”. Um absurdo para o politicamente correto vindo de burguês revoltado. Mas tentemos pensar nesse cotidiano bordão. É interessante e fácil ver.

Rico tem dinheiro para investir e gastar, jogar com risco se quiser. Os serviços básicos – lazer, saúde, educação, e o mais – são garantidos com ou sem a exclusividade do Estado – seja seu patrimônio de serviços privados ou mesmo estatais. E outros serviços, quer o que isso seja também. Sem mistérios, tudo o que o dinheiro pode comprar é vendido para quem o tem.

O pobre paga o que pode pagar e o que não pode é dever do Estado contrabalancear para o bem-estar comum. Nos serviços básicos, lógico.

E classe média? Primeiramente, ela nasceu de números e tabelas desembocando num status: estatísticas binárias de indicativos sócias e econômicos que não sabiam o que fazer com o que não era rico ou era pobre. Nasce a classe média na urgência de ter o que o rico também tem e deixar a dependência a que está sujeito o pobre. Um conflito com o Estado nasce junto. Conflito bom, saudável, para os dois, que motiva a economia. Um precisa de benefícios para existir, o outro de impostos sobre o consumo. E o capital financeiro, de crédito.

A classe média paga seus serviços e gastos. Negociando com o Estado e o mundo suas taxas e promoções. Ela está ali flutuando entre as duas classes reais na prática. Hora encostando em uma, ou em outra. E cada vez mais ela aumenta, seja vindo gente de cima, ou de baixo. E quando maior está, melhor para o país, ou pior se falarmos de algumas conjecturas do bem-estar social.

A classe média pena por ter que querer existir.

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Contra as idéias vazias

La reproduction interdite - René Magritte - 1937

La reproduction interdite – René Magritte – 1937

Geração esperta essa, a minha e provavelmente a tua. Muito esperta, contudo mal informada. Nunca desinformada, pois a ferramenta virtual está ai. E os jornais e revistas também. A imprensa de Gutenberg. Enfim, os meios da informação. Mas não a interpretação. Coisa pessoal ou coletiva que se ajunta e treina e discute.

A internet se consolida como o principal meio de informação. O novo pai dos burros é feminino, mas ainda continua o hábito de subutilizar os meios devido a preguiça de pensar. Aquele bordão “o que está escrito ai na internet” – substitua por Google, Wikipedia, Bing, Yahoo, Wolfram…

A esperteza do indivíduo em unir informações como quebra cabeças aflorou nesses últimos anos, mas o senso de depreender utilidade das peças, mais, ver se se unem, decaiu com mesma exacerbação. As pessoas ainda continuam copistas, só que de axiomas e palavras-chaves. Nascem discursos e falas imbuídos de verdades pegadas ao léu.

É fácil atestar tal coisa por tal coisa por ter apenas lido tal resumo e esquete de tal absurdo. Muita gente assim rejeita quem realmente lê – as quais que releem e interpretam e buscam. O problema é ainda esse. Quem realmente leu e leu bem. Discuta com esse gente e veja como eles desenvolvem bem o questionamento vazio. Assumem posturas sem conhecer os lados por impulso e prepotência.

É a evolução de Hipócritas: o sofista de informação. Dotados de uma dialética clássica arcaica. Espertalhões. Ler realmente cansa e é desumilde aprender dos outros. O século atual quer idiotas que criem por si mesmos. Qualquer ideia é válida. Desde que seja uma idiotice própria e sustentável. Quem grita mais alto ou fala mais bonito. Nem parece atual, por falar nisso. Deve ser uma doença cíclica. E tudo parecia ser um espasmo mental de Quincas. Mas caiu na web, é engolido.

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A respeito das manifestações no Brasil no período da Copa das Confederações

A prefeitura da capital do estado de São Paulo resolveu, por motivos corporativos e administrativos, aumentar o preço da passagem de ônibus numa variação de 20 centavos. O movimento já existente, Passe Livre – que protesta a forma das politicas de transportes brasileiras – , organizou uma manifestação contra a medida na Avenida Paulista. A manifestação tomou porte e pautas diversas, configurando um movimento de insatisfação politica geral. O Brasil experimenta o alastre de diversas outras movimentações em protesto ao status quo da politica do país, com o uso de redes sócias virtuais como instrumento de propagação e organização de passeatas pacificas, em detrimento da “grande mídia” como via.

A manifestação tem caráter juvenil: seus organizadores e participantes são de maioria jovens de uma geração que pede mudanças nas formas tradicionais de exercer o poder democraticamente.

As marchas foram em muito noticiadas como atos de vandalismo puro. Um erro semântico e social, pois isso não passa de trocar o todo por seus pedaços: havia individuas dispostas à baderna no meio dos manifestantes, mas isso representava uma porcentagem pequena. Veja o desdobrar das passeatas e flagras em diversas mídias.

A policia, a mando, logico, de gabinetes governamentais, agiu com truculência e emergencialidade contra os manifestantes, devido as ações dos indivíduos que estavam dispostas à baderna no meio da multidão. Resultando em pelotões de choques, gás lacrimogênio, tiros de borrachas acima da cintura e ferimentos graves de repórteres e protestantes.

A participação de partidos foi notável: bandeiras e acessórios partidários aparecem constantemente no meio dos protestos. Politicamente falando: partidos apoiando movimentos que caminham com suas agendas – eleitores e seus representantes. Como também uma oportunidade de lobby oportunista sobre a movimentação, adequando-a as pautas e reivindicações especificas de legendas.

Lembre-nos que o objetivo das manifestações são de interesse de qualquer cidadão.

Outra da politica social: a tentativa de categorizar o acontecido como um apelo e sentimento pela revolução proposta sob a alcunha de “Esquerda”. A insatisfação publica com seus representantes não se restringe a polos duais de pensamentos partidários.

Memoria: os protestos e atos de insatisfação ocorrem agora em 2013, ano anterior as eleições gerais de 2014. O que se vê hoje não pode ser esquecido amanhã, nas urnas.

A consciência politica cobrada do brasileiro nesses atos não é nova ou única, mas circunstancialmente singular e emergencial.

Um problema solene das reivindicações é a inocente atribuição de culpa da politicagem brasileira as esferas dos três poderes, esquecendo “os jeitinhos” das repartições publicas e municipais, como em escolas, hospitais, postos de saúde, escritórios, dos quais muitos civis se beneficiam. Devemos levar a consciência para o cotidiano.

Tudo isso durante a Copa das Confederações em solo Brasileiro. Com muitos olhos internacionais virados para cá. Bom momento, saibamos usa-lá.

Recomendo a leitura desse artigo.

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A Marcha das vadias e tantas outras

O feminismo que pretende enfrentar o tipo feminino vindo da turba através do apelo corporal, visando a conscientização e se embasando em variados discursos, em uma gritaria dionísica, é claramente paradoxal em tal procedimento, uma vez que o diálogo não subsiste com a brutalidade do apelo.

A Marcha reivindica o direito das mulheres se portarem como decidirem, fora dos mandos masculinos de padrão de beleza. Ela nasceu no Canadá, em oposição a uma estúpida afirmação de que uma mulher fora do padrão estabelecido de comportamento e vestuário, justificaria abusos sofridos pelo sexo oposto. Coisa chula herdada do machismo instintivo que ainda perpassa o tempo, mesmo que socialmente ilógico.

O problema foi como sempre os símbolos envolvidos e a magoa histórica – com razão, mas emergencialmente interpretada pelo movimento: a afirmação veio dum policial, simbolo de “macho alfa e engrandecido pelo poder”. Surge a passeata internacional Marcha das Vadias.

Uma marcha provida de reivindicação sexual – e demonstrações disso – e de padrões de beleza se valendo de outros extremos não logra grandes mudanças, além da cobertura oportunista da mídia e um genérico sentimento de libertinagem sobre a questão da mulher na sociedade. O que começou toda essa falta de respeito e gerou esse movimento foi em suma a animalização do senso social. Não teríamos evoluído? Ou somos primatas embutidos de novas ferramentas?

Tendo em mente os manifestos e conquistas femininas na sociedade moderna e contemporânea, seria o protesto um embate de extremos (machismo x feminismo) que regrie a discussão real da causa da mulher frente a importante opinião pública (consciência coletiva). O feminismo deve ser bem apresentado e representado, mais do que uma marcha cheia de estereótipos de ideários e de sexismo.

O mesmo se aplica a questão da maconha, da causa evangélica, do PL 123 e de tantas outras marchas oba-oba, onde o protesto carpe diem e o apelo aos instintos impera sobre o gradual e articulado discurso, e da representatividade política. O recolhimento de assinaturas, abaixo-assinados, votos, a leitura de mídias esclarecidas, mesmo que partidárias, é preferível as manifestações sem sentido e bagunçadas.

A Revolução Francesa e seu apoio popular possui pares com as marchas atuais: a ânsia dos san culotes sob a bastilha não logrou êxitos perenes como orquestrados pela burguesia inglesa, a qual se estabeleceu definitiva pelo Parlamento sem “uma gota de sangue”. A burguesia Francesa necessitou de outros tempos para quebrar a herança absolutista. Curiosamente tanto as revoluções de antes e as marchas de hoje foram escritas pela burguesia e seu espírito, mas a organização e preparo dessas classe mudou pelo tempo.

Marchas precisam ser o meio mais próximo ao fim da causa. Elas precedem o árduo trabalho legal, jurídico e intelectual – aprenderemos algo com Gramsci, ou nos encantamos por Stalin e Bush? Que as marchas citadas tinham argumentos de discussões acadêmicas anteriores, ninguém duvida, mas a comunicação entre as idéias e os manifestantes não firmou solidez o bastante para se ter uma proposta definida o bastante que um choque e não uma reflexão. A mania de tudo junto e misturado rompe com qualquer posição sólida e acaba antes das votações do Congresso.

Texto de Janeiro de 2013

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