artes, literatura

Modernismo brasileiro

Nesta entrevista dada pelo escritor e estudioso do Modernismo brasileiro Eduardo Jardim de Moraes, pontos interessantíssimos e gerais, mas completos sobre o movimento em sua primeira fase, analisando duas etapas principais, são abordados numa fluidez histórica e cultural competente. Coloco aqui o meus pontos, faça o seu, leia os livros, não apenas esses de Moraes, mas os dos “Andrades” e seus colegas.

  • 1º etapa: rejeição a ideia de regionalismo por tal contrapor ao universalismo, o qual, este último, resumia a modernização pelo simples alinhamento da cultua brasileira as vanguardas europeias.
  • 2º etapa: o Modernismo é definido sob o nacionalismo. O Manifesto Antropofágico é criado. Mario de Andrade quer entender a realidade do Brasil de forma analítica dentro de si mesmo. Oswald de Andrade pela integração de elementos daqui e do outro lado do Atlântico, algo intuitivo.
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literatura, quadrinhos

Gemma Bovery

Aquarela completa de capa de Emma Bovery

De semelhante nome e com iguais fados em sua trajetória narrativa, a personagem da cartunista Posy Simmonds é herdeira direta da heroína realista francesa Madame Bovary, que, com livro homônimo escrito por Gustave Flaubert, inaugurou a escola realista e seu desencanto burguês. A novela gráfica “Gemma Bovery” é o retrato contemporâneo do tédio desta classe, expressando uma observação da sociedade media britânica, não deixando de ser um retrato globalizado. Uma releitura do clássico livro e uma sátira à classe média. A França entra como atração e tributo ao escritor realista, bem como ao encanto que traz sobre os turistas da própria Europa, especificamente a Inglaterra.

A narrativa é contada por Raymond Joubert em tom confessório e obsessivo pela vida de sua vizinha “Madame Bovary” – a semelhança da vida de Gemma com a da infiel e volúvel Emma desperta essa atração sobre o padeiro francês e a mulher inglesa. Os outros personagens constroem o intertextual enredo da heroína burguesa, mas são em tudo arquétipos urbanos conhecidos, com ênfase, por parte da autora, nas conjecturas sociais atuais, que da Inglaterra representam a imprecisa classe média.

Cena da novela em publicação alemã: o tédio da personagem é claro nos desenhos.

Os traços dos quadrinhos são limpos, sombreados, bem contornados, em suma, comuns que com a escrita jornalística e o engendro das situações habituais de que se vale Simmonds, formam uma história dinâmica e assídua – um diferencial a estética descritiva realista de Flaubert. Artimanhas simples para uma novela honesta e humorística.

Gemma Bovery, de Posy Simmonds

120 páginas

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literatura

Entrevista – Aldous Huxley

A entrevista do autor de Admirável Mundo Novo foi realizada 25 anos depois do lançamento e estrondo do livro. Sua obra arquitetou estruturas de um mundo totalitário e alienante à população perante os interesses de uma elite. Muito do que ele diz nos vídeos pode ser encontrado disseminado em suas obras.

Na entrevista o autor discorre sobre como ele vê os indícios de seu mundo criado na literatura na realidade. Seus apontamentos perpassam a sociedade de mídias e o jogo eleitoral por meio dela, o uso de “novas drogas” como soma e o estabelecimento do poder vigente, bem como educação e o comunismo.

Lembremos que Aldous Huxley concede tal entrevista no fim da década de 50, no meio da guerra bipolar e do medo comunista na America. Huxley não deixa de opinar a respeito da engenhosa estrutura russa de domínio como os meandros da democracia americana.

É notável sua posterior influencia no movimento beatnik e hippie que seguiria o cronograma literário e cultural americano.

 

 

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literatura

A Metamorfose – Kafka

contém spoilers

Certa manhã, depois de despertar de sonhos conturbados, Gregor Samsa encontrou-se em sua cama metamorfoseado num inseto monstruoso”. Com este grandioso período, Kafka inicia a narrativa das impressões e mudanças deste jovem para com a sua família e sociedade. Com um diálogo no microcosmo, caracterizado no cotidiano do jovem burguês, Kafka discorre para o macrocosmo representado no dia-a-dia da juventude e homem moderno.

A metáfora grandiosa da obra é um desafio: o ser humano metamorfoseado em um inseto. O personagem concretiza fisicamente algo que perpassa sua vida fabril de trabalho e aspirações, mesmo simpáticas, medíocres. Uma nota está na delicadeza da nova realidade de Gregor: ele passa a ter gostos e perspectivas mais críticas devido às novas ferramentas pela qual sente o mundo ao redor, devido ao novo corpo, entretanto, isso não é devido ao fato de ser um inseto, e sim em estar como um. O seu interior não muda, ele se metamorfoseou, não se transformou, é um processo externo para apalpar novas visões em um corpo já ferido.

Tal processo de conflitos de percepções e posturas condiz com a carga cubista e estruturada da construção com a linguagem, comum as consequências das marcas dos tempos do autor somadas à singularidade de um gênio. A obra a respeito de uma metamorfose nos lança no interior de um edifício secamente narrado por um observador sem pretensões de construções pomposas, apenas revelando passivamente, muito por estudada descoberta, o comportamento dos cômodos de cada indivíduo frente ao estranho e fora do padrão e das necessidades cotidianas. Gregor quebrou-se em sua função, em todas. Ele estranhou a si mesmo, e numa tentativa almejada da liberdade de ser entre os outros, ainda em sua metamorfose, morre fugazmente. A vida segue sem ou com Samsa. Frans Kafka é impiedoso com seus casos, como é a realidade.

 

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artes, literatura, notas sobre teses

A respeito da fragmentação do eu, observando Pessoa e Fiodor

Pode o homem se dividir em mais do que lhe cabe no psíquico? Engendrar duas ou mais psiquês em seu íntimo? Pois é a possibilidade de fragmentação do eu literário, poético ou narrativo, a prova de que estas situações se relevam quanto ao universo da arte e do real.

Le Pigeon aux Petits Pois – Picasso ( os experimentos de Picasso buscavam a visão simultânea de algo ou ideia. Seria fácil a fragmentação do homem para que este possa “ver plenamente”? A arte é a ferramenta e a resposta )

A expressão artística da literatura é o uso da substância ‘linguagem’ ao intuito da elaboração de si mesma. Rente à realidade, o eu não se fragmenta sem danos, sem sobejar o natural do homem, contudo na literatura as artimanhas da linguagem criam uma série de  possibilidades para o drible desta atrativa forma de se entender a persona humana.

Encontramos na própria literatura exemplos. Fernando Pessoa é heterônomos e ele mesmo; em O Duplo, conto de Dostoievski, desprende enredo das teorias psicanalíticas do conflito, da loucura de se ter outro com sua aparência. Porém os meandros da ficção realística do escritor russo estão na percepção de um outro externo, o duplo não contem a essência, mas um desdobramento dos desejos desta. O eu presente não é duplo. De outra forma, Pessoa se dividiu abstraindo-se. O conflito não ocorre na mente do autor. Seus ‘outros’ não se colidem, ao contrario, colaboram a uma maior vista do autor sobre os campos artísticos.

Esses dois autores elaboraram narrativas e formas onde o eu fragmenta-se, sem experimentarerm o real labor do choque de multiplas essências, como também estuda a fundo a  psicanálise – o enredo mais próximo desta realidade seria Goliadkin, personagem do romance citado.

O eu fragmenta-se sem danar alguém no artístico, entretanto suas consequências físicas são drásticas a integridade lógica do ser humano. Um estalo de observação são alguns pares de metafísica e o campo da espiritualidade religiosa dogmática. O eu ocupado por outras psiquês integras difere do pré-suposto de Fiodor, ao retirar o conflito e perseguição notórios na obra pré-sovietica.

Findando: o eu fragmentado é instrumento artístico impar na clareza da objetividade se passível de manuseio, algo diferente do esforço de se sondar um conceito em suas perspectivas se valendo de limites pessoais – destaquemos que na modalidade marcante de Pessoa também há isto; agora, quanto ao real, o conflito é sumário.

Bibliografia: Analises didáticas e escolares de Fernando Pessoa.

O Duplo – Dostovisky

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